terça-feira, 30 de junho de 2009

Teatro - Morte e Vida Severina

"Morte e Vida Severina" é um dos maiores clássicos da literatura brasileira. Escrito pelo grande poeta pernambucano "João Cabral de Melo Neto" em 1955, o livro sempre foi uma das maiores obras da literatura nacional. Em 1965, com todo o sucesso do livro, "Morte e Vida Severina" teve sua estréia nos palcos do TUCA (Teatro da Universidade Católica) e foi dirigido por Silnei Siqueira. A peça fez um imenso sucesso no Brasil e no exterior, chegando a receber o prêmio de crítica e público no IV Festival de Teatro Universitário de Nancy, França, em 1966. Chico participou dessa apresentação em Nancy como violonista do espetáculo, pois o violonista original não pode viajar para esse festival. Para ir, Chico teve que vender seu Fusca para poder bancar a viagem.



Em 1965, Roberto Freire, diretor do teatro TUCA da PUC de São Paulo pediu ao então muito jovem Chico Buarque que musicasse a obra Morte e Vida Severina, de João Cabral de Mello Neto. E assim foi feito.




No enredo da obra de João Cabral, o retirante Severino desce aberando o rio Capibaribe em direção do mar e da cidade do Recife encontrando em seu percurso diversas paisagens marcadas pela morte e pela miséria do semi árido, velórios, enterros, animais mortos, além de ver a morte com emprego, tamanha a sua incidência. Ao chegar à cidade, nos manguezais periféricos, assiste a um parto, onde a vizinhança traz seus presentes ao bebê, novas demonstrações da pobreza, rebatida pelo pai da criança com a única esperança: o próprio ato de nascer um novo ser humano.




O livro se divide em 18 partes distintas:

Parte 1: explicação de Severino que se apresenta e diz onde e porque vai

Parte 2: A primeira morte é a da emboscada. Severino trava um diálogo com dois homens que carregam um defunto embrulhado na rede, saindo quase triste o estribilho " irmãos das almas "




Parte 3: A Segunda forma de morte encontrada é a própria natureza agreste do sertão. O retirante vê o seu rio-guia, o Capibaribe, seco.

Parte 4: Temeroso de perder o rumo segue a viagem, indo em direção do som de uma cantoria e Severino depara com um velório. No momento das excelências, dois homens começam a imitar o som das vozes dos que rezam.

Parte 5: O retirante cansado interrompe a viagem e procura um trabalho. Em solilóquio Severino retoma os motivos que o fizeram partir: está à procura da vida; de certa maneira, tenta esconder sua própria vida, ultrapassar os trinta, catando as migalhas que lhe permitem a sobrevivência.

Parte 6: Novo diálogo é estabelecido desta vez com uma mulher. Enquanto Severino vai desafiando o que sabe fazer, o leitor percebe que o conhecimento adquirido por ele não pode ajudá-lo, pois o que ele precisa saber para trabalhar com a mulher é pouca coisa, e justamente são estas coisas que ironicamente revelam quem ela é.








Parte 7: A caminhada prossegue e o retirante chega á Zona da Mata. Em contato com a terra mais branda e macia, já próxima do litoral e com rios que não secam, Severino percebe que aí pode se estabelecer, vê uma leve esperança balançar, decerto pela aparente beleza do lugar.



Parte 8: A oitava cena vem em resposta aos versos que finalizaram a anterior. Por que não havia gente no lugar? Os trabalhadores levam um morto ao cemitério, um trabalhador da lavoura. Severino-observador ouve o que dizem os amigos do finado. Uma raiva até então contida vai crescendo, acompanhada do ritmo da poesia que salta em versos de redondilhas menores até versos eneassílabos, sofrendo cortes rápidos, o que dá a impressão de tumulto.



Parte 9: O retirante apressa o passo afim de chegar mais rapidamente ao Recife. Nesta cena, ele reitera o motivo de sua retirada: não foi pela cobiça, mas para defender sua própria vida. No entanto, as esperanças vão se rareando, porque em qualquer lugar a morte é sua sempre companheira.

Parte 10: Chegando ao Recife, Severino pára para descansar e ouve a conversa de dois coveiros. Ambos discutem a possibilidade de arrematar bens com a morte, com promoções e gorjetas. A morte carrega as características do morto enquanto vivia, seu lugar depende de sua classe social em um cemitério também dividido, hierarquizado. Somente os retirantes são a " massa " da morte e morrem sem classificação

Parte 11: O retirante se aproxima de um cais de rio, confessa não ter esperado muita coisa, pois tinha a consciência de que a vida não seria diferente na cidade. No entanto esperava que melhorassem suas condições de vida, com água, farinha e um pouco mais de expectativa de vida. Só que sem querer descobre, da conversa dos coveiros que seguia seu próprio enterro.




Parte 12: A décima segunda cena estabelece uma ruptura e ao mesmo tempo anuncia a próxima parte. Trata-se do encontro de Severino com a primeira forma de otimismo exterior ao personagem, um otimismo contido, possível em tais circunstâncias da vida. O retirante trava um diálogo com José, mestre carpina. Enquanto vai dando forma às suas angústias através de perguntas, recebe uma resposta.

Parte 13: A mulher de José anuncia a chegada do filho. O anúncio do nascimento do filho-esperança, filho do mestre carpina, que " saltou para dentro da vida", num jogo contínuo de antíteses em que se opõem as desesperanças severinas à esperança.

Parte 14: Aparecem para visitar o recém-nascido amigos, vizinhos e duas ciganas. Ao tomarem a palavra os elementos de cada grupo-coral, tecem loas, fazem predições, trazem presentes, em cena que reconstitui no lamaçal (presépio) ribeirinho o milagre da vida. Severino é colocado fora da cena, como mero observador em contato com a pequena alegria, que faz o povo esquecer, por um tempo a dura realidade que carregam.



Parte 15: Presentes são levados à criança, reis magos da miséria repartem a pobreza.

Parte 16: Ao tomarem a palavra, as duas ciganas tecem suas previsões. Num processo de perfeita identidade do homem ao meio em que ele vive, as videntes tiram lições de sobrevivência. A primeira cigana toma a palavra, antecipa para a criança o mesmo destino de seu pai; a Segunda cigana prediz um destino, que levará o menino às máquinas e a paragens nos mangues melhores do Beberibe.

Parte 17: Chegam os vizinhos e cantam a beleza do recém-nascido. Os atributos que distinguem a criança são os mesmos que marcam toda a população restante. Criança magra, franzina, pálida, pequena, mas criança que vai fazer minar um pouco de vida.

Parte 18: No último segmento da peça, após a valorização da vida, o mestre carpina toma a palavra, dialoga com Severino, que é chamado mas permanece mudo.




Nesse trecho clássico, referente `a parte 1, o retirante explica quem ele é e onde e porque vai:


— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.


Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.




Faixas da trilha sonora

01 - de sua formosura
02 - severino - o rio - notícias do alto sertão
03 - mulher na janela
04 - homens de pedra
05 - todo o céu e a terra
06 - encontro com o carnaval
07 - funeral de um lavrador
08 - chegada ao recife
09 - as ciganas
10 - despedida do agreste
11 - o outro recife
12 - fala do mestre carpina




Ficha Técnica - Montagem de 1965

Autoria: João Cabral de Melo Neto

Cenografia: José Armando Ferrara

Direção: Silnei Siqueira

Direção musical: Zuínglio Faustini

Elenco/Personagem: Adolfo Musolino, Afonso Coaracy, Ana Lia Fernandes, Ana Lúcia Rodrigues, Ana Maria A. Ferreira, Andiara A. de Oliveira, Antônio Mercato,

César Falcão, Clarizia de S. Prado, Dálcio Caron, Daniela Diez, Elizabeth Nazar, Evandro F. Pimentel, Iacov Hillel, Ignes Porto, José Roberto H. Maluf,
Lamartino Leite Filho, Leticia Leite, Magaly Toledo Canto, Manoel Domingos, Marcos M. Gonçalves, Maria Cristina da Silva Martins, Maria da Penha Fernandes,

Maria Helena Motta Julião, Marina Sprogis, Melchiades Cunha Júnior,Moema L. Teixeira, Moisés B. Agreste, Sandra Di Grazia, Sergio Davanzzo, Vera Lucia Muniz,

Figurino: José Armando Ferrara

Iluminação: Sandro Polloni

Produção: TUCA

Trilha sonora: Chico Buarque

Um comentário:

  1. adorei esse trecho pois tenho uma peça de tetaro p fazer e nao sei como fazer*-*

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