terça-feira, 30 de junho de 2009

Teatro - Calabar, o elogio da traição

A segunda peça teatral escrita por Chico Buarque foi “Calabar, o elogio da traição”. Diferente de “Roda Viva”, essa peça fora escrita não apenas por ele, mas com a grande parceria de “Ruy Guerra”. A peça começou a ser escrita entre os anos de 1972 e 1973, durante os anos de ferro do fatídico governo do General Emílio Garrastazu Médici e as vésperas do abril florido da revolução portuguesa. Torturas, sequestros, homicídios permeavam a rotina daqueles dias difíceis, tudo devidamente ofuscado pela censura pós AI-5 e pela arbritariedade do governo da época. Democracia era cada vez mais um desejo ardente esquerdista de uma realidade melhor, que parecia ser cada vez mais distante.

A peça foi escrita nesse contexto, o que acabou por chamar a atenção dos militares e dos censores. Segundo relato do Chico no DVD Bastidores, o livro “Calabar” foi liberado pela censura sem maiores problemas. Já o disco, inicialmente entitulado “Chico canta Calabar” teve suas músicas censuradas parcial ou totalmente, fazendo com que algumas músicas fossem lançadas como canções instrumentais. A peça teatral teve a pior situação. O seu texto, após análise dos censores, havia sido aprovado. Porém, na data marcada para a análise da montagem da peça, a equipe de censores responsável por fazer a avaliação da peça sequer apareceu no teatro, o que fez com que a peça, que contava com mais de 80 pessoas na equipe e orçamento de 30 mil dólares, acabasse não indo a cartaz e gerando grandes confusões entre o público e sérios problemas para os produtores da peça.


Um pouco de história
Entre 1580 e 1640, Portugal foi de propriedade espanhola, o que incluía suas colônias também, como o Brasil. Os portugueses já tinham relações comerciais fortes com os holandeses, que controlavam o comércio do açúcar na Europa, além de financiar a produção açucareira no Brasil. Como já havia dominado Portugal, os espanhois queriam impedir que os holandeses continuassem controlando o comércio do açucar. Desse modo, os holandeses revidaram na tentativa de dominar as fontes de seu comércio, ou seja, teria que dominar parte do terrtório brasileiro onde o açúcar era cultivado. Assim, fizeram um grande ataque em 1624 na cidade de Salvador, centro administrativo da época e sem muito socesso, foram expulsos um ano depois. Mas na segunda invasão, em 1630 e em Olinda, os holandeses foram mais bem sucedidos e conseguiram dominar uma área litorânea que ia do Segipe até o Maranhão, que ficou conhecida como Brasil-Holandês e tinha Mauricio de Nassau como governador. Domingos Fernandes Calabar nasceu aproximadamente no ano de 1600 em Porto Alvo, Alagoas. Era comerciante, contrabandista e grande conhecedor do território brasileiro. Por motivos não muito claros, ele decide apoiar os holandeses, sendo assim considerado um traidor pelos portugueses e se tornando personagem fundamental para o sucesso da segunda invasão holandesa.

A peça se passa nesse contexto do acontecimento da invasão holandesa no nordeste brasileiro, e põe em discussão se Calabar era de fato um traidor ou se sua opção era realmente correta. Referências a Portugal e ao abril florido da revolução portuguesa dão à peça um caráter maravilhoso e subversivo, explícito em canções como “Fado tropical”, que num trecho diz:

“Oh, musa do meu fado Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata Não esquece quem te amou
E em tua densa mata Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal”


Em 1980, foi feita uma nova montagem que, dessa vez, foi realmente apresentada ao público.

Ficha Técnica - Primeira Montagem

Produção:Fernando Torres e Fernanda Montenegro
Direção: Fernando Peixoto
Diretores assistentes: Mário Masetti e Zdenek Hampl
Direção de produção: Cacá Teixeira
Assistente de produção: Renato Laforet e Leda Borges
Direção musical: Dori Caymmi
Orquestração: Edu Lobo
Coreografia: Zdenek Hampl
Cenários: Hélio Eichbauer
Figurinos: Rosa Magalhães e
Hélio Eichbauer


Elenco

Tete Medina
Betty Faria
Hélio Ari
Antônio Ganzarolli
Lutero Luís
Flávio São-Tiago
Perfeito Fortuna
Deoclides Gouvêa
Odilon Wagner e mais:
Ana Maria Vianna
Ângelo de Mareus
Antonio Pompeu
Anselmo di Vasconcelos
Belara Gudi
Carlos Alberto Santana
Dirce Morais
Dulcilene Morais
Imara dos Reis Ferreira
Ivens Godinho
José Roberto Mendes
Katia D'Ângelo
Lincoln dos Santos
Márcio Augusto
Maria Alves
Maria do Carmo
Nilton Brandão
Nina Pádua
Octávio César
Paschoal Villaboim
Paulo Afonso Gregório
Paulo de Tarso
Paulo Terra
Suzanne Motta Jacob
Taíse Costa
Thelmo Marques
Vilian
Wladimir Gonçalves.


Músicos

Danilo Caymmi
Dori Caymmi
João Palma
Maurício Mendonça
Tenório Jr.

Equipe Técnica

Iluminação: Antonio Pedro
Sonoplastia: M. S. 2001
Divulgação: Leda Borges

Ficha Técnica - Segunda Montagem

Direção geral: Fernando Peixoto
Diretor assistente: Wagner de Paulo
Direção musical,arranjos e música de cena: Marcus Vinicius
Diretor de Cena: Paulo Carrera
Cenografia e Figurinos: Hélio Eichbauer


Elenco

Sérgio Mambert: Frei Manoel do Salvador
Othon Bastos: Mathias de Albuquerque e Maurício de Nassau
Tânia Alves: Bárbara
Martha Overbeck: Anna de Amsterdã
Osmar di Pieri: Oficial Holandês
Gésio Amadeu: Henrique Dias e Papagaio Oba
Miguel Ramos: Felipe Camarão e Escrivão
Elifas Andreato: Agente da C.I.O.
e a participação em diversos personagens dos atores:
Ariel Moshe
Dadá Cyrino
Édsel Britto
Ina Rodrigues
Luiz Braga
Luiz Carlos Gomes
Mercedes de Sousa
Mônica Brant
Samuel Santiago
Wilson Rabelo
Zdenek Hampl


Músicos

Magno Bissoli Siqueira: Bateria e Percussão
João Carlos Mourão: Contrabaixo e Violão
Fernando (Mu): Violão, Guitarra e Bandolim
Max Werneck Muniz: Flauta, Sax-soprano e Sax-tenor
Zeymar: Flauta e Sax-alto
Dagmar: Trompete


Equipe Técnica

Produção executiva: Eliane Bandeira
Sócia gerente: Regina de Souza Malheiros
Assessoria administrativa: João Luiz Rossi
Divulgação: Sérgio Ascoly
Coreografia: Zdenek Hampl
Sonoplastia: Cacá
Iluminação: Mário Masetti
Fotografias: José Rodrigues
Cartaz: Elifas Andreato
Programa: Alexandre Huzak
Camareira: Helena Lima da Silva
Maquinista: Paschoal Landi
Cenotécnico:João Tereza
Operador de luz: Adolfo Santana
Costureira: Alice Correa

Nenhum comentário:

Postar um comentário